No
dia 28 de Março de 2014 completaram-se 46 anos da morte de Edson Luis,
estudante secundarista que foi assassinado pela polícia da Ditadura
Militar, simplesmente por protestar em defesa de melhorias no
Restaurante Calabouço, localizado no Rio de Janeiro, local onde os
estudantes faziam suas refeições, visto
que as escolas não possuíam estrutura adequada para garantir a
alimentação dos alunos. Após a morte do nosso camarada abriu-se uma
fissura no regime ditatorial dos militares, levando para as ruas de
diversas cidades do país milhares de estudantes e trabalhadores para
pedir o fim da odiosa ditadura. As manifestações ficavam cada vez mais
organizadas e combativas, com a adesão de diversos movimentos sociais e
de grêmios, Centros acadêmicos e DCEs de todo o país.
Em memória
desse período de terror, morte e tortura imposto pela ditadura e que
assassinou diversos estudantes, entre eles Edson Luís, centenas de
estudantes secundaristas saíram às ruas no centro do Rio de Janeiro para
lembrar o ocorrido. A RECC se fez presente nas plenárias de construção e
no ato do dia 28 de Março, além de passar em diversas escolas,
mobilizando e resgatando a memória da combatividade do movimento
estudantil nos tempos de ditadura. Um movimento que se organizava pela
base, que era classista e que foi protagonista de uma heróica
resistência nos anos de chumbo.
No entanto, o que se viu no dia 28
da parte das organizações que detêm os aparelhos burocráticos do
movimento, tais como AERJ, FENET e ANEL, dirigidas por PCR e PSTU
respectivamente, além de coletivos supostamente independentes a
partidos, mas que na prática são dirigidos por correntes do PSOL, é
justamente o oposto daquilo que defendemos incansavelmente para o
movimento secundarista na atualidade.
Após ficarmos horas na
candelária em concentração esperando para sair, o comando do ato,
instância burocrática definida por essas organizações já citadas e
rechaçadas por nós e pelas correntes que constroem a FIP, foi visto
conversando com policiais. Mais do que um erro estratégico isolado, isso
se configura como prática comum dessas organizações. Além de contribuir
para a exposição dos estudantes e sua eventual falta de segurança,
revelam a sua opção pelas manifestações que seguem a ordem, a ponto de
conversarem com aqueles que no passado mataram Edson Luis e hoje matam
Amarildos e Cláudias. Não bastasse isto, seguravam os estudantes que ali
estavam loucos para sair em marcha, com a desculpa de que esperavam a
CET-RIO fechar o trânsito, mostrando mais uma vez uma faceta não
combativa e subserviente as ordens do Estado, este que não dá passe
livre pros estudantes e que destrói cada vez mais as escolas e a
democracia dentro delas.
A Recc, junto com as correntes que compõem
a FIP, sabendo dessa situação, deu início à manifestação, não esperando
a liberação da CET-Rio e partindo para o lado da Avenida Rio Branco
oposto ao que parece ter sido acordado entre o “comando do ato”, a
polícia e a CET-Rio. Todos os estudantes vieram conosco o que causou
tensão com os que “comandavam o ato”. Primeiro porque queriam o carro de
som à frente da manifestação, tirando o protagonismo dos estudantes, e
garantindo a ordem. Além disso, chamaram as organizações que constroem a
Fip de fascistas, simplesmente porque escolheram o caminho da luta e
não o da conciliação e do acordo com aqueles que nos reprimem e matam
desde a ditadura até os dias de hoje.
Quando viram que não
conseguiriam através da delação e do oportunismo satisfazer suas
vontades de dirigir e guiar, como se iluminados fossem, os
secundaristas, vieram dialogar conosco. Foi aí que chegamos a um acordo
para que o ato continuasse sem tensionamentos. Todavia, como de costume,
essas organizações não cumpriram em nada o acordo, pelo contrário,
tentaram a todo instante isolar as organizações combativas, com o
intuito de afastá-las das suas bases e garantir uma manifestação
ordeira. Ao passar no clube militar, símbolo maior do que de mais odioso
há na nossa história, passaram direto, fazendo apenas menção ao
camarada Edson Luis na passagem. Nesse momento vimos algo interessante:
diversos estudantes foram retirados por uma suposta “comissão de
segurança” que não foi deliberada e nem constituída em nenhuma plenária
para os ônibus nos quais vieram. Uma arapuca pra esvaziar uma possível
ação da fração dos estudantes combativos, com objetivo de delatar e
taxar-nos como irresponsáveis. Lamentavelmente estão desde novos
aprendendo a trair a categoria em benefício do aparelho.
Chegando à
Alerj, local onde foi velado o corpo de Edson Luis, a polícia militar
mostrou a mesma postura de 46 anos atrás. Sem que nada tivesse
acontecido, começou a efetuar prisões e atirou balas de borracha contra
os estudantes. Resultado final da patética atuação do comando do ato e
das organizações traidoras e sua relação servil com a polícia militar: 3
estudantes presos e 1 estudante ferido com um tiro de bala de borracha
no nariz e hospitalizado no Souza Aguiar.
A AERJ e a FENET,
entidades dirigidas pelo PCR, assim como a ANEL, dirigida
majoritariamente pelo PSTU, não representam uma alternativa organizativa
a UBES simplesmente porque são apenas deslocamentos de centro de poder,
superestruturas que não se preocupam com o trabalho de base, a
organização dos estudantes de escola em escola. Esses partidos, tanto no
movimento estudantil como no sindical, já mostraram sua cara! São
traidores e inimigos daqueles que lutam por uma escola popular de
qualidade, pelo passe livre e pelo livre acesso a universidade. Isso
ficou muito evidente no dia 28 de Março. Já o coletivo “juventude em
movimento” que fala em seus materiais de autonomia e independência em
relação a partidos é dirigido majoritariamente pela corrente Insurgência
que faz parte do PSOL. Tocam sua política de forma oportunista, se
aproveitando da honestidade e da disposição dos estudantes em construir
um movimento estudantil novo e pela base. Todos os seus dirigentes
estudantis, já conhecidos pelo papel de delação ao longo da última
década estavam presentes no dia 28, com as mesmas práticas de antes.
Esse coletivo não é uma alternativa independente para o movimento
secundarista, pois já está atrelado aos vícios e a degeneração dessa
corrente.
A RECC convoca a todos os estudantes secundaristas para
construir uma alternativa classista, independente e autônoma a partidos e
que esteja disposta a reconstruir o movimento estudantil combativo.
Para isso é necessário a construção de coletivos de oposição a grêmios e
coletivos de base nas escolas que não possuem grêmio. A organização, a
democracia e a responsabilidade são parceiras dos estudantes do povo e
por isso não deverá nos assustar. A desorganização, a burocracia e a
indisciplina são inimigas dos sinceros lutadores e lutadoras que
reconhecem a grandiosa tarefa a qual estão submetidos: lutar por uma
educação que esteja a serviço da classe trabalhadora. A independência
não é sinônimo de corporativismo. Aqueles que, sob o desígnio de
“independentes”, não pretendem se organizar nem aliarem sua luta a luta
dos demais estudantes classistas e combativos de outras escolas e
cidades atestam, ao contrário, um sectarismo, uma política infértil, um
isolamento que conduzirá nossos objetivos estratégicos ao fracasso.
Aqueles que não se organizam serão fácil e rapidamente consumidos ou
atropelados pelas organizações e partidos hegemônicos na cena política
nacional de caráter reformista, legalista e pacifista.
União e Organização é força!
Nós Venceremos!
Avante o Movimento Estudantil Classista e Combativo